
Durante o curso sobre tipografia organizado pela Stanford, letterform Archive e Word of type, fui desafiado a pensar numa abordagem local no que concerne a concepção ou desenvolvimento de tipografia. E com este desafio surgiu o interesse em estudar os cartazes elaborados na época pós-independência e como consequência nasceu as análises de cartazes numa primeira instância nas minhas redes sociais e agora, como forma de documentar e tornar acessível a todo mundo decidi partilhar na Design informa.
Esta série de análise de cartaz pós independência começa a se tornar mais interessante, primeiro por saber que houve artistas (que prefiro designar por designers), que contribuíram na promulgação de ideologias, unidade e progresso nacional.
Por escasséz de fontes, até o momento os trabalhos de José Freire são ainda relevantes e dignas de apreciação pela sua estética. Isto porque cada elemento parece ser engendrado para transmitir algo explorando o máximo o plano gráfico como pode ser observado neste cartaz, por exemplo.
O contraste entre os elementos como a cor, ícones, símbolos e silhuetas, tanto quanto o espaço que permite que a leitura seja suave, agradável e de fácil absorção da mensagem como pode ser observado através do fundo preto que pode sugerir ou interpretado como escuridão ultrapassada através do derrame de sangue representado pela silhueta de soldados que erguem as armas como grito de vitória acompanhado pela bandeira que pode significar o alcance da paz (a luta continua).
Freire consegue em suas obras representar, por repetição, os elementos que caracterizavam as ideologias da época que era a luta para alcançar a paz, a luta continua (armas), produção interna fruto do regime da época (enxada), a necessidade por aprender para produzir melhor (livro), a necessidade de avanço tecnológico (ferramenta), e tudo isso representado numa silhueta que nos permite perceber ou ver, quando atentos, uma forma de xikelekedwana que alberga todos os elementos juntos.
Como uma obra tão simples como esta pode conter de forma organizada várias alegorias, ou mensagens sem confusão. É até emocionante descobrir o impacto que a comunicação visual pode gerar e ser também a fonte para a leitura da nossa história mesmo depois de 50 anos.
Ano: 1975
Autor: José Freire
Título: 25 de Junho, Independência de Moçambique
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