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Entrevista com André Rendeiro sobre o universo da tipografia

Andree 
Nesta edição temos o prazer de apresentar a entrevista feita com o Designer e tipógrafo brasileiro André Rendeiro, residente na parte norte do Brasil, Belém. Rendeiro para além de conceber tipografia actua como pesquisador no campo da tipografia, património cultural e visual urbana. Ele desenvolve projectos interdisciplinares que conectam Design, história de arte, memória, território e identidade com especial interesse nas inscrições e formas tipográficas presentes no espaço público de Belém do Pará.

Nos últimos tempos ele tem se dedicado na organização de eventos do Diatipo Belém, encontro dedicado à tipografia e ao design gráfico latino-americano através da promoção de palestras, oficinas e intercâmbio entre profissionais, estudantes e a comunidade em geral. 

Actualmente é mestrando no programa de Pós-graduação em ciências do Patrimônio Cultural da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde pesquisa a tipografia memorial no cemitério da Soledade. É também fundador da Belém Type, iniciativa voltada à pesquisa, documentação e criação de projectos tipográficos inspirados no repertório gráfico da cidade. E com ele, nesta entrevista, buscamos conhecer o seu trabalho bem como a visão holística sobre o mundo da tipografia que tem cada vez mais se mostrado relevante a nível global no campo do design gráfico.

Como foi que entrou no mundo da tipografia e o que o motivou a fundar a tua foundry Piramutype.

Eu estudo tipografia desde 2008. No começo era só curiosidade pelas letras que me cercavam, uma vontade de entender como elas funcionavam e por que tinham tanto poder de expressão. Aos poucos isso virou pesquisa, prática e, principalmente, um jeito de olhar para o mundo.

A Piramutype nasceu em 2021 como um espaço para transformar esse percurso em criação. É onde eu experimento, testo ideias e crio fontes que refletem tanto minha trajetória quanto a minha forma de pensar design hoje.

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Se tratando de um campo onde muita gente, me refiro à clientes, não têm noção desse campo do design como tem feito para ultrapassar essa barreira?

Morar em Belém (região norte do Brasil), fora do eixo econômico do Brasil, sempre me fez encarar o design de um jeito diferente. Aqui muita gente ainda não tem clareza sobre o que é tipografia ou qual o valor de investir nesse campo. No começo isso parecia uma barreira, mas aprendi a transformar em oportunidade: em vez de esperar que o cliente já entenda, eu mostro, compartilho processo, explico com exemplos próximos da realidade dele.

É quase um trabalho de tradução simultânea, de aproximar o universo da tipografia das necessidades locais. E, no fim, isso me dá liberdade de criar sem ficar preso a fórmulas prontas do mercado, abrindo espaço para um design mais autoral e conectado com o lugar onde vivo.

O mercado do design, falando das grandes marcas, parece haver uma tendência para que se recorra sempre, no âmbito da criação tipográfica como parte da identidade da marca. Como acha que esse fenômeno impacta os Foundries e type designers como a Piramutype?

A gente vê cada vez mais as grandes marcas investindo em tipografia como parte central da identidade, o que mostra o quanto a letra deixou de ser apenas um detalhe e passou a ser um ativo estratégico. Para quem está numa foundry independente, como a Piramutype, isso tem um impacto duplo: por um lado, reforça a importância do nosso trabalho, abre espaço para discutir tipografia com clientes que antes nem consideravam essa dimensão; por outro, aumenta a responsabilidade de criar fontes que sejam não só funcionais, mas também carreguem personalidade e relevância.

No meu caso, que estou fora do grande eixo econômico, essa movimentação também ajuda a mostrar que é possível produzir tipografia de qualidade em qualquer lugar. A Piramutype se posiciona nesse cenário oferecendo olhares alternativos, menos padronizados, e acho que esse é justamente o papel das foundries independentes: tensionar o mercado, trazer diversidade estética e cultural, e propor narrativas que vão além do que já está consolidado.

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Quais foram as tipografias desenvolvidas pela Piramutype e qual foi o processo, bem como o uso final a que eles se destinam.

A Piramutype desenvolveu algumas fontes próprias (entre lançadas e não lançadas temos 8 tipografias), e cada uma com personalidade e função claramente definidas. Entre elas destacam-se:

Manu Regular: uma fonte expressiva e divertida, com formas arredondadas e informais, perfeita para textos de impacto, títulos e peças que exigem presença visual marcante.

Novella Grotesk: uma grotesca moderna, limpa e funcional, que garante leitura clara em diferentes escalas, sendo indicada para editorial, identidade visual e aplicações digitais.

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Rendeiro Sans: fonte sem serifa, com desenho contemporâneo e refinado, projetada para oferecer versatilidade em projetos institucionais, branding e interfaces gráficas.

O desenvolvimento dessas fontes envolve pesquisa, experimentação e desenho manual, sempre considerando a personalidade da letra, a legibilidade e a aplicabilidade prática. 

O uso final das fontes é diverso: desde identidade visual de marcas, materiais editoriais e comunicação cultural até projetos experimentais que exploram narrativa visual e design autoral. Cada fonte da Piramutype nasce para ser um instrumento de expressão, capaz de dialogar de maneira única com o contexto de quem a utiliza.

E há eventos que têm promovido a democratização de tipografia. Qual é o objectivo e como é estar envolvido nesse tipo de evento Diatipo Belém?

O DiaTipo Belém busca democratizar a tipografia, tornando o conhecimento sobre design acessível a todos e valorizando a produção autoral e a cultura visual da região.

Para mim, estar envolvido nesse evento é muito inspirador: é uma oportunidade de aprender com profissionais renomados, trocar experiências com outros criativos e ver de perto como a tipografia pode dialogar com a sociedade. Participar me permite contribuir para essa movimentação e, ao mesmo tempo, ampliar minha própria visão sobre design.

Uma palavra para os designers que trabalham com design, bem como para empreendedores ou marcas na a luz de um type designer.

Para quem trabalha com design ou para marcas que buscam se comunicar de forma autêntica, a tipografia é muito mais do que letras no papel ou na tela: ela é voz, identidade e presença. Cada escolha tipográfica carrega personalidade e influência como sua mensagem é percebida. Valorize o desenho das letras, experimente, ouse e use a tipografia como um instrumento para contar histórias, conectar-se com o público e reforçar a essência do seu projeto.

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