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Arte como arma de combate para artistas

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Desde cedo, somos inculcados na mente que toda arte é a manifestação ou expressão do sentimento de quem a concebe. Agora, o que dizer em relação às obras que nascem em ambiente de injustiça, desigualdade, falsas promessas e vários fenómenos que se vive desde a independência até os dias de hoje, no país?

Este artigo restringe-se às obras feitas ou concebidas durante o mês de Outubro de 2024 por artistas moçambicanos. Importa salientar que este assunto não deve ser considerado como verdade absoluta, pelo contrário, é apenas um ponto de partida e incentivamos aos que se interessam pelo assunto que partilhem para que, em colectivo, possamos  registar ou documentar as diferentes actividades e acontecimento numa perspectiva dos artistas.
 
A nossa equipa buscou contactar vários artistas com o objectivo de nos facultarem as suas obras concebidas neste contexto, para que, desta forma, nos permitissem fazer o uso dos direito das suas obras. Usamos desta oportunidade para agradecer profundamente aos artistas, designers, fotógrafos e ilustradores que contribuíram para a materialização deste artigo.

A nível global, na arena das artes gráficas, é exaustivo o uso da frase "toda obra de arte é filha do seu tempo", pois bem, embora artistas visuais, designers gráficos, fotógrafos e ilustradores têm vindo a elaborar obras com o teor de Crítica Social, este artigo cinge-se na promulgação de obras desencadeadas pelos acontecimentos actuais face às contendas entre vários partidos políticos, assim como a indignação do povo perante a maneira com que o partido hegemónico governa o país. 

O fenómeno que desencadeou a concepção das obras que se seguem serviu para iluminar a discussão que há muito têm se discutido em relação às obras de arte e/ou a comunicação visual. Isto é, com o avanço tecnológico surgiram ferramentas criadas para captar a essência da realidade tendo como o agente responsável pela documentação ou registro, o artista. Este que tem como responsabilidade levar um facto percebido sobre um ponto subjectivo, único, e torná-lo objectivo geral.

A representação da realidade como ela é, aos olhos de quem a capta e registra era, antigamente, feita exclusivamente pelos pintores cujas habilidades incluíam "copiar a realidade", estes comummente conhecidos como retratistas – pessoas que buscam representar as imagens tal como se apresentam. Entretanto, com o advento da câmera fotográfica, o registro imagético ganhou nova dinámica, e isso vai também desde a invenção dos computadores e criação dos softwares até a materialização do terror dos criativos: inteligência artificial. 

Através da câmera fotográfica, hoje, é possível "freezar"um momento através de um clique acionado pelo artista que maneia a câmera. Abaixo encontramos alguns momentos captados pelo fotógrafo Ildefonso Colaço no primeiro dia das manifestações no Bairro de Maxaquene. 


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A obra, em si, é difícil de ser classificada ou compreendida no momento ou mesmo na sua época e isto deve-se ao facto dos gostos serem hoje viciados, limitando-se, assim, a nossa capacidade contemplativa e a literacia sobre a estética de arte visual e o repertório histórico no que concerne a arte. 

As obras do Ildefonso Colaço são caracterizadas por um estilo peculiar, onde o local comum torna-se, diante dos espectadores, através da combinação de vários elementos, um cenário único. Estas imagens revelam, de realística e inédita, o estilo das fotografias do Ildefonso enquadrando-se no segmento do seu estilo.


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Colaço, através de um clique a sua câmera fotográfica congelou um momento inédito que reflecte ou espelha fenómenos causados pelo conflito político numa perspectiva única cuja emoção que consumia-o já mais poderá ser replicada, mesmo que se pretenda desenhar a imagem – no estilo dos retratistas –, sendo esta tentativa um acto da destruição da obra. 

Cada elemento que consta nesta imagens é o que torna possível a compreensão geral daquilo que ali se passa. Pois bem, para o nosso tempo, os elementos distribuídos são auto explicativos e por isso que hoje ninguém pensaria que todos reunidos nessa roda estariam a assar carne, a não ser que seja retirada do seu contexto, caso este que significaria a deturpação da semântica visual. 

Em relação à arte visual, é possível transmitir uma mensagem cujo impacto, para além da obra em si, esteja estritamente ligada à motivação e à manifestação artística. Para tal, podemos ver a obra concebida pela artista Plástica e Designer Sandra Pizzura, ela que actua como professora na cadeira de Desenho Livre no Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC), tendo elaborado como homenagem a Elvino Dias e Paulo Guambe, que foram brutalmente assassinados. 

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A comunicação visual possui um vasto vocabulário que lhe é próprio, possibilitando ao espectador uma contemplação e interpretação com vista a uma compreensão de uma obra ou peça gráfica. Para esta obra em específico, a artista foi motivada pela vontade de descongelar o surto que tivera quando recebera a notícia. Pizzura explicou para a nossa equipa que em relação a obra, tinha como objectivo primário fazer o desenho numa tela maior e que não avançou com esta ideia da tela devido ao tempo que teria de despender a preparar o material, optando, desta forma, por conceber a obra num papel através de uma técnica simples.

Para além dos trajes que simbolizam o ofício exercido pelos homenageados, os elementos são suportados pela convenção de punhos ao ar, cuja simbologia representa "solidariedade e apoio às causas relacionadas a conflitos sociais". 

Esta obra resultou da necessidade de responder a emoções momentâneas cuja sua expressão reflecte um facto social objectivo é compreendido por um público vasto, isto para não falar sobre as cores, "... o sol de junho para sempre brilhará…".

Se aprofundarmos ainda mais, por exemplo, na Obra intitulado Democracia, tendo sido a técnica Carvão e óleo de pastel da Nelsa Guamba – artista multidisciplinar praticante das seguintes actividades: pintura, fotografia, curadoria, produção e gestão cultural, pode também ser encontrado a representação que resulta dos recentes acontecimentos desencadeados por questões políticas, mas desta vez numa forma que nos remete à traços delicados.

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Para além dos contribuintes acima citados, tivemos o privilégio de ter algumas obras de designers gráficos que conceberam peças digitais empregado elementos e símbolos que foram apropriados do tópico em questão.

Sem fugir dos seus estilos, Arlindo mais conhecido por Manga Mulandi partilhou com a nossa equipa a sua obra concebida baseado num estilo gráfico que vem desenvolvendo desde os anos da faculdade até aos dias de hoje, sem, neste caso, comprometer a mensagem que pretende comunicar ao público. 

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Na composição da obra Autoridade, Manga Mulandi buscou como referências os ícones existentes na capital de Moçambique tais como os elementos extraídos na praça dos continuadores, a representação de autoridades que, segundo Manga, "controlam  o sistema que igualmente os controla" sendo estes conhecidos como Polícia da República de Moçambique.


Contemplado profundamente, a obra revela vários outros elementos cuja semântica se associa à campanha eleitoral, roubo de votos, meios de informação que manipulam a verdade assim como os olhos que veem e decidem ignorar. Bom, mais do que fazer uma mensagem directa, esta obra é rica em alegorias que mais se assemelham à arte como, tradicionalmente, a conhecemos, não obstante concebida por um designer.


Ainda na senda do registro ou documentação imagética suscitada por manifestações, podemos associar as referências usadas pelo Manga para fazer uma ponte através da fotografia captada pelo Mário Cumbana, este foi formado em Artes Têxteis e pedagogia pela ENAV, tendo intitulado esta colecção por Manifestações.


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Esta imagem carrega, em si, códigos fortes quando relacionado às ações inesperadas das autoridades contra a população que se juntou para uma manifestação pacífica para prestação da homenagem aos dois que foram brutalmente assassinados. 

Importa referenciar que o início dessa manifestação, tudo decorreu pacificamente até que, como forma de impedir-lhes de continuarem a sua marcha, as autoridades que "controlam sistema que os mesmo os controla" começaram a atacar-lhes com balas de gás lacrimogêneo sem terem infringido nenhuma lei, pelo contrário, as pessoas que se juntaram para a manifestação juntaram-se para exercer o seu direito. 

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