Campanha-01-01-copy

Artigos

4/recent/ticker-posts

Diálogo entre Designers africanos rumo a narrativa autónoma

Design-informa-SPOT-03-03-01-Recovered

Há aproximadamente 2 anos no artigo “Sankofa: O desafio do ensino do design gráfico em Moçambique”, tentei alertar a uma urgência necessária sobre o ensino de Design focado nas ideias e cultura local, claro, sem omitir a influência forasteira do Design e história de arte no qual este campo está enraizado com vista a munir os estudantes e profissionais nacionais de matérias e influências que agreguem valor à tradição e cultura local para que desta forma pudesse existir um diálogo local, numa primeira instância e consequentemente um diálogo global justo. Isto porque a tendência global seja técnica ou conceptual têm exigido mais daquilo que não podemos dar devido a falta de um fundamento (sob perspectiva forasteira) sólido resultado da ruptura na construção de narrativa própria de africanos, numa abordagem mais ampla. 

Foi basicamente nessa altura em que também buscava conhecer os designers gráficos não só moçambicanos, como também africanos com vista a acompanhar e entender o diálogo que estava ocorrendo na altura. Durante esse trajecto conheci vários designers e profissionais que se dedicavam na reconstrução histórica para ressignificar as suas próprias narrativas. 

Durante esse período foi possível identificar vários movimentos que estavam ligados a vários domínios da comunicação visual como concepção de logotipos, cartazes, estudo de cores, desenvolvimento de tipografias, estudo de símbolos, contestação identitária e ideológicas com abordagens locais. 

Entre designers e teóricos no campo de comunicação visual foi possível identificar vários profissionais como Saki Mafundikwa, Simon Charwey, Taurai Tava Take, Osmond Tshuma, Tapiwanashe Sebastian Garikayi, Juliet Kavishe, Chisaokwu Jobson, Fungi Dube e outros que têm contribuído na construção de uma narrativa “própria”.

Entretanto, foi um grande desafio, na altura, tentar me conectar com todos estes que caminhavam numa direcção única. Contudo, mesmo separados por fronteiras geográficas e linguísticas em um mundo globalizado, foi possível identificar algo que nos unisse a todos nós: O problema do passado apagado. 

Algo intrigante começou a chamar-me atenção em meio a tudo isso, no universo dos designers citados quase 97% praticamos o Type Design, campo de design que se dedica na construção de letras. 

A princípio, para quem está familiarizado, por influência, a tipografias europeias pode estranhar a aparência e as razões que originaram os tipos desenvolvidos por quase todos nós, o que é compreensível. Mas esse movimento começa a se destacar como uma luz de esperança na construção de narrativas africanas pois mais um domínio do campo de design começa a ser alimentado por softwares (tipografias) fundamentadas numa perspectiva africana. Sobre este último ponto, no mês passado foi questionado aos internautas as suas perspectivas sobre o que é uma tipografia moderna entre Helvetica e Oja Display, onde foi claramente enfatizado que a percepção que adquirimos sobre o que é algo “clean” foi imposto a nós pelas narrativas, repetições e histórias que vêm sendo promulgadas em um mundo onde narrativas africanas foram sempre silenciadas.

Importa chamar a atenção para o facto de a execução desses estilos de tipografias serem, muitas vezes, reflexo dos materiais, técnicas e pensamentos que reflectem o estado actual da África e ou o que resta de tradições, símbolos e marcas que nos são inerentes, onde ultrapassa aquilo que seria barreiras pois poucos têm acesso a material formal que ajudam na construção de tipos com influência da sua origem, recorrendo, desta forma, a aquilo que têm a sua disposição e criando possibilidades de uma forma peculiar de construir a nossa própria história

Crédito da imagem: Bonse Bomba

Enviar um comentário

0 Comentários

Campanha-01-01