A sua pintura advém da literatura. É lendo que lhe surgem inspirações. Traz trabalhos visuais que exaltam amor, ternura, proximidade, toque, profundidade e muito mais ao invisível. Distancia-se da combatividade, por preferir a pintura suave que, ao mesmo passo, é filosófica. Silêncios sociais e aventuras pela dimensão inconsciente do ser humano são os outros mistérios que resultam nas obras de Ruben Zacarias, artista plástico moçambicano que actualmente está sediado em Portugal, no Porto.
Afim de monetizar o seu trabalho, o artista plástico faz a reprodução das suas obras a partir do artesanato sofisticado com um design profissional. Uma personalização feita, principalmente, em vestuário e acessórios, cujo intuito é “alcançar outras formas práticas de consumo”, disse. Esta adaptação das obras de Ruben que oferece, também, bens tangíveis a longo prazo, é parte do seu trabalho intenso a cada dia. Além das reproduções das suas pinturas, realiza várias exposições em Lisboa, Porto e Guimarães e “sempre de olho ao que se passa no mundo para aproveitar as oportunidades”, revelou.
Ruben Zacarias tornou público que uma das características que lhe identifica é “a desconstrução e a busca por novos caminhos e conceitos são fundamentais no meu processo criativo”.
Apesar de se dedicar muito às artes plásticas e ter paixão indescritível pela área, confessou à Design Informa que “não aconselho ninguém a investir nas artes plásticas com intuito de ganhar muito dinheiro”. Questionado o porquê, seguiu: “as sociedades não têm educação cultural, estética e de sensibilidade para comprar um livro, uma pintura, visitar uma exposição, comprar alguma peça de arte para fazer circular a economia artística. Não é só em Moçambique, em Portugal também”, finalizou, reforçando em forma de recomendação que se existe amor por esta forma de arte ou qualquer outra, não se pode desistir por conta dos desafios.
De volta às obras plásticas de Ruben Zacarias, baseia-se em pintura à óleo, acrílica, bem como nas técnicas mistas que incluem os pastéis secos e de óleo, tinta china, aguarela, guache, mas sobretudo materiais à base de água devido “ao seu imediatismo nos resultados e até porque são trabalhos que secam rápido e dá para colocar mais camadas”, contou.
Inclinando à arte como um processo experimental, explora suportes diferentes, desde os mais tradicionais, especificamente a tela e o papel, até à colagem voltada ao desenho com a tesoura, pinturas sobre cimento, serigrafias, e realiza pinturas sobre filme radiográfico. Neste último, conta com uma experiência em Lichinga e, agora em Portugal, com acesso a materiais com densidades variadas, tem desenvolvido ainda mais.
O fácil acesso ao material de artes plásticas é uma das vantagens que encontra no exterior e em comparação com o cenário moçambicano avança que “as tintas, os mais diversificados papéis, pincéis e materiais de moldagem, modelagem e escultura dificilmente encontrei e se tivesse a sorte custavam muito caro”.
Ruben Zacarias é também editor e escritor. Seu primeiro romance, lançado em 2022, é titulado “Rei Morto, Rainha Posta”, uma obra de amor, mistério e conflito. Em breve, lançará a obra “A sombra com nenhum elefante”, uma coletânea de microcontos. É co-editor das edições Matrioska. Não separa estas funções das artes plásticas porque “gosto de fundir e tem sido maravilhoso. Rouba-se um pouco daqui e empresta-se àquele mundo e aquele mundo ganha também a dimensão plástica e metafísica”, justifica.
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